Os impactos da COVID-19 nas empresas é um problema que tem preocupado você?
A pandemia de coronavírus continua forçando o fechamento de estabelecimentos comerciais no Brasil e no mundo, acarretando uma interrupção da economia sem precedentes.
Em virtude deste cenário de incertezas, empresas de todos os segmentos passaram a enfrentar desafios em torno de diversas questões, dentre elas, como manter seu fluxo de caixa positivo e honrar compromissos com fornecedores e colaboradores.
No entanto, superar este período não garantirá um futuro calmo para gestores e empresários. Isso porque, assim que tudo passar, estaremos em um mundo diferente daquele que deixamos antes do surto.
Para garantir um futuro em que as empresas não apenas sobrevivam, mas prosperem, é essencial refletirmos sobre como será o mundo pós-pandemia e comecemos a nos questionar como podemos nos adaptar a ele.
Na Ásia, por exemplo, já existe uma crescente preocupação entre consumidores e empresários em relação a uma eventual segunda onda de casos do coronavírus. Por este motivo é esperado que algumas restrições se estendam até o final de 2020.
Se isso realmente acontecer, além de impactos econômicos a pandemia proporcionará tempo suficiente para que novos hábitos e comportamentos sejam construídos, e talvez, adotados permanentemente.
Para chegarmos a alguma conclusão a respeito e entendermos os reais impactos da COVID-19 nas empresas e na sociedade é necessário analisarmos as movimentações do mercado, estudarmos nossa história e adicionarmos uma pitada de futurologia.
Neste exercício, de tentar entender para onde estamos caminhando, duas premissas me parecem certas e proponho a você refletir sobre elas neste post.
Antes de continuar ressalto que são tendências, não afirmações concretas, ok?
Então, vamos lá…
A primeira premissa é que alguns hábitos adotados durante a pandemia se tornarão permanentes. A segunda, que pós-pandemia os consumidores estarão em uma nova realidade econômica que impactará diretamente seus hábitos de consumo.
1. Os impactos da COVID-19 nas empresas e na economia global
Transição para o Digital
Antes da pandemia era possível notar um aumento significativo de empresas adotando estratégias digitais de marketing, publicidade, comunicação e vendas.
Entretanto, durante o surto do coronavírus, por necessidade a adesão ao digital se intensificou.
Muitos negócios estão repensando seus modelos operacionais, produtos e serviços de modo a atenderem às novas demandas que estão surgindo.
Segundo Nicole Corbett, Diretora de Inteligência da Nielsen:
…a adoção pelos consumidores de tecnologias para se manterem informados e protegerem a sua saúde pode ser um catalisador para ampliar o alcance das plataformas e soluções tecnológicas, não apenas a curto, mas a longo prazo também.
A possibilidade de comprar online e receber o pedido em casa (delivery), antes considerada como um benefício extra proporcionado ao cliente, hoje se tornou o mínimo que se espera de uma empresa.
Em se tratando de vendas diretas, muitas categorias de produtos já haviam sido transformadas pelo digital nas últimas décadas, como é o caso do mercado de livros e eletrônicos, que concentravam em canais digitais seu maior volume de vendas.
Outros segmentos como vestuário estavam dando seus primeiros passos no sentido da transição para o digital, enquanto uma das maiores categorias de consumidores do mundo, a de supermercados, ainda era incipiente em se tratando de compras online.
De acordo com a Nielsen, apenas 4% das compras de supermercado nos Estados Unidos foram realizadas digitalmente em 2019, mas a pandemia do novo coronavírus está alterando rapidamente este cenário.
Com a necessidade do distanciamento social, compras pela internet (de produtos essenciais ou não) tornaram-se questão de sobrevivência.
De acordo com dados da Rakuten Intelligence, o volume de pedidos digitais de compras em supermercados aumentou 210% de 12 a 15 de março nos EUA em comparação com o mesmo período do ano anterior.
No Brasil os números são ainda maiores. Segundo pesquisa realizada pela Konduto, entre 15 a 24 de março de 2020, o segmento de brinquedos cresceu 643%, supermercados 448%, artigos esportivos 187%, farmácias 77%, games online 58% e serviços de delivery 55%.
Quando a pandemia passar, após experimentar os benefícios e a comodidade de comprar pela internet, muitas pessoas provavelmente continuarão com a prática.
Você acredita que não?
Na China, em 2003, mais de 8 mil pessoas foram infectadas pela SARS e quase 800 morreram. Escolas, fábricas e lojas foram fechadas, e as movimentadas cidades da China rapidamente se transformaram em cidades fantasma.
Porém, neste período (assim como estamos observando agora) a epidemia potencializou o volume de compras realizadas pela internet.
Antes da SARS, o Alibaba era um e-commerce de produtos eletrônico B2B sem muita projeção, com vendas de aproximadamente US $ 10 milhões por ano, enquanto a Jing Dong Trading era uma pequena cadeia de lojas de eletrônicos que vendia principalmente por meio de lojas físicas.
Em poucos anos, a Alibaba e a JD.com cresceram e se tornaram duas das maiores empresas de comércio eletrônico do mundo.
Higiene e cuidados
A pandemia provavelmente não terminará pela erradicação da COVID-19, mas sim, devido a uma redução do número de casos ocasionado pelo isolamento social, desenvolvimento da imunidade de rebanho e mudanças de hábitos sociais e de higiene.
O SARS-CoV-2, ou variantes podem ressurgir sazonalmente e uma pandemia totalmente nova continuará sendo uma possibilidade. Diante dessa realidade é provável que a sociedade passe a ser mais cautelosa em relação a formas de contágio.
Você tem dúvida que os impactos da COVID-19 nas empresas e na sociedade serão inúmeros?
Cumprimentos e entregas sem toque podem se tornar comuns, self-services e buffets podem ficar menos populares à medida que consumidores se sintam menos confortáveis em consumir alimentos que permaneçam expostos.
Telas de toque ou teclados utilizados por várias pessoas também deverão ser repensados, assim como, áreas comuns de lazer e entretenimento.
Neste cenário, empresários precisarão reinventar seus negócios e desenvolver experiências sem contato a seus clientes, priorizando ao máximo a higiene.
Mudança de hábitos
Você já se perguntou quantos hábitos a pandemia que estamos vivenciando pode impactar?
Consumidores que estão cozinhando em casa durante a quarentena podem passar a gostar de comida caseira e continuar a fazê-la. Aqueles que quebraram seu hábito diário de fast food podem não voltar a ele.
Novos assinantes de plataformas de streaming podem gostar da experiência e optar por mantê-la.
Uma grande parte da força de trabalho pode mudar permanentemente suas rotinas operacionais que antes eram alocadas fisicamente em empresas para o home office, uma vez que as organizações perceberam que é possível fazê-lo sem perca de produtividade.
Outro ponto de atenção é que à medida que novos comportamentos passem a se tornar permanentes, surgirão novas demandas por bens e serviços que até então eram pouco exploradas ou inexistentes.
Fidelidade à marcas
A medida que a oferta de serviços diminui e as prateleiras de produtos ficam vazias, a preferência por marcas diminui.
Você pode preferir o papel higiênico da marca “X”, mas, quando confrontado com a realidade de não ter papel higiênico, qualquer marca serve.
No Brasil isso ainda não é realidade (e espero que não seja), mas a COVID-19 está forçando consumidores de outros países a lidar com a escassez, e consequentemente a irem além de suas marcas preferidas.
Tais consumidores podem sair da pandemia com preferências de marca inteiramente novas e sem nenhuma fidelidade.
Alteração das cadeias de suprimentos
Segundo Weiwen da Bain & Company, muitas empresas mudarão sua grande dependência da cadeia de suprimentos chineses.
A crise do coronavírus mostrou para multinacionais que é arriscado depender de um único país. Além disso, o custo de mão-de-obra na China subiu nos últimos anos, tornando-o menos atrativo.
Redução da globalização
A pandemia, pode trazer mesmo que a curto prazo, uma sensação de desglobalização. Com fronteiras fechadas e países em transe sob o temor de uma recessão, o novo coronavírus testa os limites da globalização.
Viagens de negócios tendem a se reduzir, governos devem manter o fechamento das fronteiras, a interrupção das trocas comerciais e o controle dos movimentos populacionais, voltando seu foco ao mercado doméstico.
2. Nova realidade econômica decorrente do impacto da COVID-19
É muito possível que a maioria dos países superem a pandemia em um cenário econômico bastante complexo.
O Morgan Stanley projetou que o produto interno bruto dos EUA deve cair a uma taxa anual de 30,1% em abril/junho, e que o desemprego no país possa alcançar uma média de 12,8% no período. Segundo Goldman Sachs ocorrerá uma queda anual de 24% na produção no próximo trimestre.
O Departamento do Trabalho informou que as reivindicações por auxílio desemprego nos EUA subiram para 3,28 milhões entre 20 e 26 de março (2020), quebrando recordes anteriores do pico da Grande Recessão.
Em 2 de abril (2020), este número quebrou novos recordes, alcançando 6,648 milhões, dobrando em apenas uma semana o número de desempregados no país, mesmo o FED (Banco Central Americano) tendo injetado o equivalente a 7 trilhões de reais na economia.
Vale lembrar que este montante é equivalente ao PIB do Brasil registrado em 2019 (7,3 trilhões de reais).
Com isso, é esperado que os gastos do consumidor passem por grandes reduções durante a possível recessão que afetará inúmeros países.
Em períodos assim, não apenas os consumidores se tornam mais conservadores financeiramente, mas a liberação de crédito para pessoas físicas e jurídicas pode se tornar menos disponível, limitando significativamente o poder de compra.
Mesmo quando a economia se recupera, os consumidores podem ainda sofrer suas consequências, que duram muito mais que a recessão em si, podendo levar anos.
Neste cenário, negócios que estejam alinhados às necessidades e expectativas reais dos seus consumidores levam vantagem. É preciso acima de tudo manter o foco em gerar valor!
Lição de casa para minimizar os impactos da COVID-19 nas empresas
Se você é empresário ou gestor reflita sobre como o seu negócio se encaixará em um novo cenário mundial, talvez muito diferente do atual.
Pense em como você poderia agregar mais valor ao seu produto/serviço de modo a conquistar a preferência do seu consumidor e atende-lo de forma mais consistente.
Por fim, será que não é a hora de se reinventar e reduzir os impactos da COVID-19 na sua empresa? Definitivamente este não é um bom momento para temer mudanças.