Os principais líderes empresariais globais estão preocupados com uma iminente recessão, segundo pesquisa publicada em junho de 2022, pelo The Conference Board (EUA), que entrevistou mais de 750 CEOs e executivos C-Level em todo o mundo.
A pesquisa aponta que 76,1% dos diretores executivos acreditam que haverá uma recessão na principal área de operações de suas empresas antes do final de 2023. Deles, 15% acreditam que já há uma recessão, enquanto 43,3% consideram a possibilidade de uma crise financeira até o final de 2022.
No mesmo período da realização da pesquisa, Elon Musk (CEO da Tesla), em e-mail aos seus gestores afirmou “possuir um sentimento muito ruim sobre a economia”, e solicitou que fossem pausadas as contratações da empresa em todo o mundo. Além disso, Musk pontuou que será necessário cortar 10% da mão de obra assalariada da montadora para manter sua operação.
Jamie Dimon, presidente do conselho de administração e presidente executivo do JPMorgan Chase & Co, também se manifestou a respeito, dizendo em uma conferência de negócios para uma plateia de executivos e investidores que a situação atual é sem precedentes. Segundo ele, “um furacão econômico está em andamento”.
Musk e Dimon não são os únicos executivos de projeção mundial que abordam abertamente o assunto. Mark Zuckerberg (CEO da Meta), em um memorando aos seus colaboradores, disse que os times devem esperar um cenário de orçamentos mais enxutos e sem um número significativo de novas contratações: “Estamos em tempos sérios aqui e os ventos contrários são ferozes“.
É fato que a economia global está se tornando cada vez mais frágil desde a pandemia, e o cenário geopolítico que vem se construindo desde então, tem contribuído para torná-la extremamente sensível e vulnerável.
Os reflexos da possível desaceleração econômica no universo das Startups
Após um longo período de fácil captação de investimentos para startups, devido aos efeitos decorrentes da pandemia de COVID-19, somados à guerra na Ucrânia e outras intempéries, o mercado de venture capital não está mais em uma boa fase, e por consequência, as demissões em massa já começaram.
No Brasil, nos últimos meses, nomes como Ebanx, Facily, Olist e Quinto Andar realizaram grandes dispensas. Algumas com mais de 300 cortes.
Segundo o site Layoffs Brasil, as demissões têm afetado de unicórnios a novas startups. Vejamos os dados de algumas demissões:
MÊS | EMPRESA | DEMISSÕES |
Julho | Involves | 70 |
Julho | Tribal | 15% do seu quadro |
Julho | Alice | 63 |
Julho | Celero | 25% do seu quadro |
Julho | Movile | 40 |
Julho | Loft | 380 |
Junho | iFood | 80 |
Junho | eBanx | 340 |
Junho | Shopee | 50 |
Junho | Americanas | 400 |
Junho | Empiricus | 150 |
Maio | VTEX | 300 |
Abril | Quinto Andar | 160 |
O que está impulsionando uma possível recessão econômica?
Muitos especialistas têm citado vários elementos como impulsionadores de uma possível recessão econômica global. Dentre eles, podemos citar:
- Iminência de guerras e conflitos;
- Inflação impulsionada pela volatilidade dos preços de insumos, energia e combustíveis;
- Necessidade de grandes investimentos em energias renováveis, como forma de blindagem a longo prazo para sobreviver à volatilidade dos preços de energia.
- Riscos de ataques cibernéticos;
- Surgimento de blocos econômicos concorrentes liderados por China, EUA e Rússia.
Como os CEOs pretendem superar a recessão, caso ela ocorra?
Segundo o The Conference Board, os CEOs relataram que planejam lidar com o impacto de uma possível recessão por meio de respostas mistas:
- 51% pretendem repassar custos mais altos aos consumidores recorrendo ao aumento de preços de seus produtos e serviços;
- 47% intencionam reduzir seus custos com o auxílio da troca de fornecedores, diminuição de capacidade produtiva e corte de colaboradores;
- 36% cogitam absorver seus custos adicionais, encolhendo assim, suas margens de lucro.
Quais são os indicadores de uma recessão?
Uma recessão é definida quando um país apresenta dois trimestres consecutivos de queda em seu Produto Interno Bruto (PIB), o que na prática significa produzir menos produtos e serviços, além de uma retração nas medidas de renda mais relevantes.
Então, uma recessão econômica de fato ocorrerá quando houver uma convergência de vários indicadores, que podem ser observados ao longo do tempo, indicando sua provável ocorrência. Vejamos alguns deles a seguir.
Inversão da curva de juros
A inversão da curva de juros é um fenômeno econômico em que os juros a curto prazo são superiores aos juros a longo prazo. Ela ocorre quando os investidores estão dispostos a aceitar taxas de juros menores para aplicações de longo prazo, pois acreditam que a economia estará em recessão em um futuro próximo.
A inversão da curva de juros é um importante indicador preditivo, pois geralmente ocorre antes de uma recessão. Ela, por si só, não é uma causa da recessão, mas indica que os investidores estão se preparando para uma economia retraída e turbulenta.
Aumento das taxas de desemprego
Uma das primeiras coisas que ocorrem em uma recessão são demissões. Com menos postos de trabalho ativos, o consumo cai, levando as empresas a produzir menos. Isso cria um ciclo vicioso que faz com que as taxas de desemprego subam rapidamente. Em geral, elas atingem seu pico depois que a economia já começou a se recuperar.
Desaceleração das vendas no varejo
Outro sinal típico de uma recessão é o declínio das vendas no varejo. Com as pessoas perdendo seus empregos e tendo menos dinheiro disponível, é natural que comprem menos bens e serviços não essenciais. Isso leva a um declínio nas receitas das empresas do varejo, e consequentemente, à redução do número de funcionários, criando novamente um ciclo vicioso.
Indicadores imobiliários fracos
Outro setor afetado pelas recessões é o mercado imobiliário. Quando as pessoas estão preocupadas com o futuro da economia, tendem a adiar compras de alto ticket, como casas ou carros. Isso leva a uma queda nas vendas e nos preços destes bens.
Inflação diminui
Uma das principais métricas da economia é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Este índice mede os preços dos produtos e serviços vendidos ao consumidor final na economia brasileira, e é usado também, para medir a inflação. Durante as recessões, os preços geralmente caem devido à queda na demanda por produtos e serviços. Isso leva à redução do INPC e à diminuição da inflação na economia.
Aumento de inadimplência
Com menos dinheiro em circulação e altos índices de desemprego, o aumento da inadimplência é percebido. Esse cenário reflete-se na economia como um todo, uma vez que as pessoas tendem a consumir menos quando estão desempregadas ou com dificuldades financeiras, impactando diretamente os negócios, que passam a serem obrigados a tomar medidas para sobreviverem à uma redução de faturamento.
Caso ocorra, como uma empresa pode se preparar para atravessar uma recessão?
Uma vez que tomamos ciência que tempos turbulentos podem chegar, é hora de nos precavermos para que sejamos capazes de garantir a longevidade do nosso negócio, e também, nos resguardarmos contra os efeitos deste período de instabilidade.
Mas, como podemos fazer isso?
Embora não exista uma maneira infalível de prevenção contra as consequências de uma recessão, existem algumas ações práticas que podem ajudar a minimizar seus impactos negativos.
Invista em educação
A educação é um investimento que pode ajudar na proteção contra os efeitos de uma recessão, pois fornece as habilidades necessárias e desenvolve competências para que sejamos capazes de gerenciar nossos negócios mesmo diante de adversidades.
Além disso, quanto mais qualificados formos, mais chances teremos de encontrar soluções satisfatórias para os desafios que nos serão impostos.
Diversifique sua carteira
A diversificação é importante não apenas para uma carteira de investimentos, mas também, para uma carteira de negócios. Trabalharmos com vários produtos/serviços, e até mesmo, diversificarmos nosso segmento de atuação pode reduzir o risco de vermos nossa fonte de renda exaurida rapidamente.
Tenha uma reserva financeira
Termos uma reserva financeira é um dos pontos mais importantes para que um negócio supere crises com tranquilidade.
O recomendado é que uma empresa tenha em caixa um montante que seja capaz de suprir seus custos operacionais em um período de 6 a 12 meses.
Períodos incertos exigem mudanças estratégicas e ações diferenciadas, as quais, na maioria das vezes, necessitam de investimento para serem implementadas.
Toda crise traz oportunidades, no entanto, precisamos estar preparados para sermos capazes de aproveitá-las.
Falarei a seguir sobre duas ações imprescindíveis para construirmos efetivamente uma reserva financeira mais rapidamente.
Venda mais
É óbvio, mas a maneira mais simples e eficaz de construirmos caixa para um negócio é buscarmos mecanismos que nos possibilitem vender mais.
Investimentos em ações de marketing e publicidade, quando realizados de maneira correta e profissional, aumentam o volume de vendas de um negócio, elevando seu faturamento, sua capacidade de investimento, e também, a possibilidade de constituir uma reserva financeira.
Não existe mágica! É preciso que uma empresa desenvolva ativamente meios de potencializar a geração recorrente de novos negócios.
Reduza despesas
Outra maneira de reduzirmos o impacto de uma recessão é contermos despesas.
Nestes momentos de incertezas é importante nos concentrarmos no que é essencial. Isso significa cortar custos com coisas como viagens, processos mal desenhados que geram desperdícios, e até mesmo, salários de colaboradores que não entregam resultados proporcionais ao que recebem.
Vale lembrar, que a redução de custos em áreas que têm impacto direto na geração de vendas pode acarretar um resultado inverso, ou seja, pode culminar em uma diminuição radical de faturamento. Portanto, é preciso cautela e análise!
Conclusão
Diante de um cenário econômico global instável, é importante estarmos atentos aos sinais de uma possível recessão. Caso ela realmente ocorra, poderá afetar negativamente empresas de todos os tamanhos e setores, inclusive no Brasil.
Deste modo, o momento atual é crucial para definição de estratégias, elaboração de planos de contingência e execução de ações que nos permitam superar uma possível contração ou desaceleração econômica.
Ao longo dos próximos meses, continuarei monitorando o cenário global e publicando novos artigos sobre o assunto aqui no blog. Por isso, não deixe de cadastrar-se para receber atualizações e ficar por dentro de todas as novidades!