Já não é novidade os acontecimentos originados pela disseminação do novo coronavírus pelo mundo, e também, as inúmeras especulações sobre os impactos do COVID-19 nas empresas e na economia global.
Este cenário de incertezas tem preocupado todos aqueles à frente de pequenos negócios, que em sua grande maioria, não possuem caixa suficiente para suportar períodos inoperantes ou com operações reduzidas.
Até mesmo empresas com maior fôlego financeiro, certamente sofrerão consequências em virtude da desaceleração econômica e não sairão ilesas dessa pandemia.
Mas, o que empresas em geral e principalmente pequenos negócios podem fazer de forma prática para minimizar os efeitos do coronavírus e aumentar sua longevidade?
Sou empresário e devo me preocupar com a pandemia?
O surto do novo coronavírus, que surgiu oficialmente na China em dezembro de 2019 – até a data em que escrevo este texto (28/03/2020) – já infectou 597 mil pessoas no mundo, sendo registradas até então, mais de 27.300 mortes em decorrência do seu contágio.
Segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a economia global irá sofrer anos até se recuperar totalmente dos impactos da pandemia.
Angel Gurría, secretário-geral da entidade, afirmou em entrevista à BBC que o choque econômico atual já é maior do que a crise financeira de 2008 ou a de 2001, e que para este ano, esperar por um crescimento mundial na casa de 1,5% seria algo otimista demais.
De acordo com o relatório produzido pela BCG (Boston Consulting Group), a evolução do número de casos ao redor do mundo tende a forçar grande parte dos países a decretarem quarentena e lockdown para conter o contágio do vírus sem uma data específica para terminar.
Tais ações, dependendo do tempo que levarem para serem revogadas, tendem a direcionar a maioria das economias a uma recessão, ou seja, a um declínio econômico por 2 ou mais trimestres consecutivos.
Infelizmente, as projeções não são otimistas. No Brasil, o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, disse que o pico de casos no país deve ocorrer até o mês de junho (2020).
Nós estamos imaginando que nós vamos trabalhar com números ascendentes, espirais em abril, maio, junho. Nós vamos passar aí 60 a 90 dias de muito estresse para que quando chegarmos ao fim de junho, julho, a gente imagina que entra no platô. Agosto, setembro a gente deve estar voltando, desde que a gente construa a chamada imunidade de mais de 50% das pessoas.
No Reino Unido, a situação não é diferente. O primeiro-ministro, Boris Johnson, em entrevista afirmou acreditar que o país “pode mudar a maré” contra o surto nas próximas 12 semanas (ou seja, também em junho).
Nos EUA, que está se tornando o novo epicentro da pandemia, segundo estudo divulgado na última quinta-feira pela Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, o país atingirá seu pico de mortes diárias em meados de abril, e o final dessa curva, abaixo de 10 mortes diárias, aproximadamente na primeira semana de junho se todos os estados americanos adotarem medidas restritivas.
Além do fator tempo, outro ponto que deve ser analisado é: No momento atual, a suspensão do lockdown faria as pessoas voltarem imediatamente às suas vidas normais?
Provavelmente não!
É esperado em momentos de pandemia que a sociedade, de forma espontânea, mantenha-se em estado de alerta, reduza o consumo de itens não-essenciais e diminua atividades que a coloquem em risco, como frequentar lugares públicos e reunir-se em grupos, o que poderia também, levar à uma recessão.
E quanto a vacinas?
Mesmo estando em ritmo acelerado, a busca por vacinas contra o coronavírus aparentemente não será uma solução possível a curto prazo.
Além disso, mesmo que desenvolvida em tempo record, exigirá imunização em escala global, o que não é possível de ser realizado rapidamente. O melhor palpite é que uma vacina possa ficar pronta em aproximadamente 18 meses.
A grande incerteza sobre a dimensão, extensão temporal e consequências a longo prazo do problema são variáveis de total importância neste momento. Baseie-se nelas para concluir se você deve ou não se preocupar!
Como a economia brasileira pode ser afetada pelo coronavírus
A economia brasileira, segundo informativo do Ministério da Economia, pode sofrer os efeitos da pandemia do COVID-19 por diversos canais, os quais veremos a seguir:
Redução das exportações
A redução no ritmo de atividade global tende a gerar uma queda na demanda por exportações brasileiras, sobretudo de commodities.
Queda no preço de commodities e piora nos termos de troca
A menor demanda global tende a pressionar para baixo os preços em dólar de commodities. O preço de insumos importados também pode aumentar, tendo em vista a menor disponibilidade destes no mercado.
Interrupção da cadeia produtiva de alguns setores
A paralisação da produção e do escoamento de bens intermediários chineses, importantes para a indústria brasileira, pode afetar a produção de manufaturados em alguns setores, induzindo uma redução nos es- toques.
Queda nos preços de ativos e piora das condições financeiras
Após o aumento expressivo no número de novos casos de COVID-19 fora da China, as principais bolsas de valores pelo mundo acumularam perdas expressivas, refletindo uma piora nas perspectivas de recuperação econômica.
Houve aumento na volatilidade e na demanda por ativos de menor risco. A queda nos preços de ativos e o aumento na aversão a risco tendem a piorar as condições de financiamento para as empresas.
Redução no fluxo de pessoas e mercadorias
A epidemia pode provocar comportamentos precaucionais na população como diminuição de viagens, reduções de jornada, ou ainda, adoção de home-office.
O que empresários podem fazer a curto prazo para minimizar os impactos da pandemia?
Neste momento de apreensão é importante que empresários e gestores estruturem planos de ação e definam como agir em diferentes cenários para resguardar ao máximo seu negócio e colaboradores.
Desse modo, listarei a seguir ações destinadas a pequenos e médios negócios que não possuem caixa de contenção, ou seja, não tem fôlego financeiro para suportar períodos sem operação, ou até mesmo, de operação reduzida.
Realize um diagnóstico do negócio
O ponto de partida para qualquer tomada de decisão deve ser o real entendimento do cenário em que a empresa se encontra.
Planifique detalhadamente custos e despesas fixas e variáveis com o intuito de entender o que não é essencial e pode ser reduzido, eliminado ou renegociado.
Avalie caso a caso. Fornecedores pequenos podem não ter margem suficiente para negociar e quebrar com a perda de poucos clientes. O momento é de ajuda mútua!
Se possível, por razão de inatividade ou operação por Home Office, cogite solicitar a suspensão temporária de serviços como água, luz, telefone e internet. Tais suspensões, na maioria dos casos, podem ser solicitadas uma vez a cada 12 meses e durar de 30 a 120 dias. As condições podem variar de acordo com o contrato firmado entre empresa e prestadora do serviço.
Identifique também no diagnóstico contratos firmados que gerarão receita pelos próximos meses. Porém, não deixe de considerar que tais devedores, assim como a maioria dos negócios, enfrentarão dificuldades.
Assim, busque alternativas que irão garantir o cumprimento de tais contratos e a retenção do cliente, resguardando o fluxo de caixa da empresa.
Para isso, considere alternativas como oferecer benefícios, serviços complementares (sem aumento na cobrança), descontos para antecipação de pagamentos, etc. É hora de ser criativo!
Reveja seu modelo de negócios
No atual cenário econômico o modelo de negócios utilizado pela sua empresa ainda faz sentido diante das novas necessidades do mercado?
Momentos de maior instabilidade e incerteza trazem novos problemas a serem resolvidos, ao mesmo tempo em que potencializam necessidades que começavam a despontar.
Modelar negócios é um exercício de visão de futuro, análise de tendências e observação das movimentações do mercado.
A “fórmula” que fez uma empresa crescer no passado não é garantia de sucesso no presente e muito menos no futuro. Portanto, não tenha medo de transformações, mesmo que precisem ser profundas.
Com os exponenciais avanços tecnológicos que estamos vivenciando, os quais se tornarão cada vez mais acentuados, é natural que a forma como uma empresa entrega e captura valor mude radicalmente ao longo do tempo.
O mesmo se aplica a produtos e serviços. Reveja rapidamente se eles continuam alinhados às necessidades e expectativas dos seus consumidores.
Contudo, lembre-se:
Boas decisões são baseadas em dados, não em achismos.
Considere canais digitais
Neste momento de quarentena, a internet tornou-se um meio versátil para união social, consumo de informação, entretenimento e conexão com potenciais consumidores e clientes.
Segundo a pesquisa Compre e Confie realizada pelo grupo ClearSale, o e-commerce no Brasil cresceu 40% na primeira quinzena de março (2020) em relação ao mesmo período de 2019.
Acredita-se que o aumento tenha sido impulsionado pela pandemia, que estimulou o desejo dos consumidores de diminuir o contato direto com outras pessoas. No comparativo entre igual intervalo de 2019 e 2018, as compras via internet tinham aumentado 4%.
Além das oportunidades óbvias para vendas por meio de lojas online e serviços de delivery, este período de reclusão também pode se tornar propício para que empresas estabeleçam vínculos duradouros com potenciais consumidores e clientes valendo-se de estratégias de Marketing de Conteúdo.
Gradativamente as pessoas tendem a se saturar do assunto coronavírus, e assim, voltarão a consumir na internet conteúdo sobre temas do seu interesse cotidiano.
Quanto mais as pessoas estiverem em casa, mais estarão conectadas, e por sua vez, mais tempo dedicarão a navegar por diversas questões, inclusive sobre como resolver problemas. Posicionar-se estrategicamente neste momento pode ser determinante para empresas de todos os portes e segmentos.
Estar presente na internet com forte presença digital e trabalhar processos de marketing e vendas por este canal não é mais um opção!
Postergue impostos federais e o recolhimento de FGTS e INSS
O Governo federal autorizou a postergação do pagamento de impostos federais e do recolhimento do INSS e FGTS da folha de pagamento por três meses a partir de março de 2020.
É importante ressaltar que a medida não significa o perdão da dívida e que elas deverão ser compensadas no futuro.
Para evitar problemas, consulte seu advogado e contador para um melhor entendimento dos prazos e possibilidades específicas do seu negócio.
Recorra a financiamentos para cobertura de folha de pagamento
O governo federal anunciou em 27 de março uma linha de crédito emergencial para pequenas e médias empresas com o intuito de auxiliá-las a quitar débitos com a folha de pagamento dos seus colaboradores pelo período de dois meses.
O financiamento é destinado apenas a esta finalidade e o valor solicitado pela empresa será creditado diretamente na conta de seus colaboradores. O teto máximo individual é de 2 salários mínimos.
Esta linha de crédito estará disponível a empresas com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões por ano com carência de até 6 meses para início do pagamento.
O montante poderá ser dividido em até 36x com juros de 3,37% ao ano.
Mantenha seu time motivado e alinhado
Manter colaboradores motivados e alinhados às decisões e estratégias do negócio não é uma tarefa fácil, nem mesmo em condições normais.
Contudo, neste período, dedique atenção extra a estes elementos. Garantir o alto desempenho do time e expressar preocupação por cada integrante da equipe é fundamental.
Verifique como cada membro do time está reagindo a este momento desafiador. Nem todos lidam da mesma maneira com situações adversas.
Em momentos de crise é fundamental que os líderes demonstrem empatia.
Não se pode esperar que as pessoas sejam capazes de alcançar alta performance e executar tarefas complexas de trabalho se estiverem inseguras com a sobrevivência da sua família, ou ainda, preocupadas se irão perder o emprego.